Não adormeças na viagem!
Os pais tinham deixado tudo bem claro: se quisesse ficar mais uma semana na aldeia, teria de regressar sozinha no 47, o autocarro mais foleiro, velho, malcheiroso e desconfortável que fazia o trajecto Manteigas-Aveiro! Mas como iria curtir bué, Miriam não pensou na infernal viagem de regresso. Por isso, aproveitou as festas da sua aldeia até ao último segundo, e sem ter dormido, sentou-se naquela lata velha com rodas. O ronronar do motor fez com que ficasse K.O. e ela entrou num estado de sono absoluto, perdendo a noção do tempo e do corpo. De repente, o autocarro fez uma travagem e a Miriam acordou. Olhou para a mulher que estava ao lado... Que estranho, não se lembrava de nada! Olhou para a paisagem: seria possível estar a nevar em pleno Agosto? Porque é que todos os passageiros tinham casacos de pele e botas? Porque é que todos tinham os olhos rasgados? De repente, olhou para as mãos e os pés: quem é que os tinha atado? Queria gritar, mas não tinha voz! Onde estava? O que lhe tinham feito? E enquanto sentia uma lágrima pelo rosto viu uma placa que dizia: «Lapónia». O que fazia na terra dos esquimós? Quanto tempo teria dormido? O que aconteceu? E como iria regressar a casa sem saber a língua e com apenas um euro?
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